Sede o canto que agrada a Deus!

Dos Sermões de Santo Agostinho (354-430), bispo e doutor da Igreja:



Somos convidados a cantar ao Senhor um cântico novo (Sl 149,1). É o homem novo que conhece este cântico novo.

O cântico é alegria e, se o analisarmos com mais atenção, também é amor. Aquele que sabe amar a vida nova conhece esse cântico novo. Mas também é necessário que estejamos conscientes do que é a vida nova por causa do cântico novo. Tudo isto faz arte do mesmo Reino: o homem novo, o cântico novo, a nova aliança. O homem novo cantará um cântico novo e fará parte da nova aliança

«Eis-me a cantar», dirás. Cantas, sim, tu cantas: estou te ouvindo. Mas toma cuidado para que a tua vida não dê um testemunho contrário ao da tua língua. Cantai com a voz, cantai com o coração, cantai com a boca, cantai com a vossa conduta, «cantai ao senhor um cântico novo».

Se vos questionais sobre o que deveis cantar Àquele que amais, e procurais louvores para Lhe cantar, «louvai-O na assembleia dos fiéis» (Sl 149,1). O cântico de louvor é o próprio cantor. Quereis cantar os louvores de Deus? Sede o que cantais. Vós sois o Seu louvor, se viverdes bem.


A fé católica sobre o ministério do Papa - I

Primeira Constituição dogmática sobre a Igreja de Cristo


1821. O eterno Pastor e Bispo das nossas almas (cf. 1Pd 2,25), querendo perpetuar a salutífera obra da redenção, resolveu fundar a Santa Igreja, na qual, como na casa do Deus vivo, todos os fiéis se conservassem unidos, pelo vínculo da mesma fé e do mesmo amor. Por isso, antes de ser glorificado, rogou ao Pai não só pelos Apóstolos, mas também por aqueles que haviam de crer nele através das palavras deles, para que todos fossem um, assim como o Filho e o Pai são um (cf.Jo 17,20s). Por isso, assim como enviou os Apóstolos que tinha escolhido do mundo, conforme tinha sido ele mesmo enviado pelo Pai (cf. Jo 20,21), da mesma forma quis que até a consumação dos séculos (cf. Mt 28,20), houvesse na sua Igreja pastores e doutores. Mas, para que o próprio episcopado fosse uno e indiviso, e pela coesão e união íntima dos sacerdotes toda a multidão dos crentes se conservasse na unidade da mesma fé e comunhão, antepondo S. Pedro aos demais Apóstolos, pôs nele o princípio perpétuo e o fundamento visível desta dupla unidade, sobre cuja solidez se construísse o templo eterno e se levantasse sobre a firmeza desta fé a sublimidade da Igreja, que deve elevar-se até ao céu. E como as portas do inferno se insurgem de todas as partes de dia para dia com crescente ódio contra a Igreja divinamente estabelecida, a fim de fazê-la ruir, se pudessem, Nós julgamos necessário para a guarda, para a incolumidade e para o aumento da grei católica, após a aprovação do Concílio, propor a crença dos fiéis a doutrina sobre a instituição, a perpetuidade e a natureza do santo primado Apostólico, no qual reside a força e a solidez de toda a Igreja, segundo a fé antiga e constante da Igreja universal, proscrevendo e condenando os erros contrários, tão perniciosos a grei do Senhor.

Cap. I – A instituição do primado apostólico em S. Pedro

1822. Ensinamos, pois, e declaramos, segundo o testemunho do Evangelho, que Jesus Cristo prometeu e conferiu imediata e diretamente o primado de jurisdição sobre toda a Igreja ao Apóstolo S. Pedro. Com efeito, só a Simão Pedro, a quem antes dissera: Chamar-te-ás Cefas (cf. Jo 1,42), depois de ter ele feito a sua profissão com as palavras: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo, foi que o Senhor se dirigiu com estas solenes palavras: Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque nem a carne nem o sangue to revelaram, mas sim meu Pai que está nos céus. E eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E dar-te-ei as chaves do reino dos céus. E tudo o que ligares sobre a terra será ligado também nos céus; e tudo o que desligares sobre a terra será desligado também nos céus (cf. Mt 16,16 ss). E somente a Simão Pedro conferiu Jesus, após a sua ressurreição, a jurisdição de pastor e chefe supremo de todo o seu rebanho, dizendo: Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas (cf. Jo 21,15 ss). A esta doutrina tão clara das Sagradas Escrituras, tal como sempre foi entendida pela Igreja católica, opõe-se abertamente as sentenças perversas daqueles que, desnaturando a forma de governo estabelecida na Igreja por Cristo Nosso Senhor, negam que só Pedro foi agraciado com o verdadeiro e próprio primado de jurisdição, com exclusão dos demais Apóstolos, quer tomados singularmente, quer em conjunto. Igualmente se opõem a esta doutrina os que afirmam que o mesmo primado não foi imediata e diretamente confiado a S. Pedro mesmo, mas à Igreja, e por meio desta a ele, como ministro dela.

1823. [Cânon] Se, pois, alguém disser que o Apóstolo S. Pedro não foi constituído por Jesus Cristo príncipe de todos os Apóstolos e chefe visível de toda a Igreja militante; ou disser que ele não recebeu direta e imediatamente do mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo o primado de verdadeira e própria jurisdição, mas apenas o primado de honra – seja excomungado.

A Igreja, mistério de fé e de amor

A Igreja de Cristo, que somos nós e que nos ultrapassa! Pensar nela de modo apropriado, compreendê-la, exige, antes de tudo, tomar consciência do que professamos com tanta freqüência: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica”.


Eis um primeiro dado de grande relevância: a Igreja é objeto de fé! Professar a fé nesta realidade chamada Igreja é antes de tudo reconhecer que ela não se esgota simplesmente naquilo que nossos olhos podem perceber e nossos sentidos contemplar: ela nos ultrapassa, transcende nossa compreensão e percepção!

Se é verdade que ciências tais como a história, a sociologia, a antropologia e até a psicologia podem dizer algo sobre ela, sobre seu caminho no tempo da aventura humana, no entanto, somente na fé poderemos captar sua realidade mais profunda.

Não se pode compreender a Igreja a não ser na Igreja, nela crendo, nela vivendo, por ela sofrendo, dando-lhe nossos esforços, o melhor de nossos sonhos, o mais profundo do nosso afeto - em suma, compreenderá a Igreja quem vive e ama a Igreja! A este propósito são notáveis e comoventes as palavras do testamento de Paulo VI, no final de sua longa existência: “Ó santa Igreja, católica e apostólica, recebe o meu mais profundo ato de amor!”

Ou mesmo as palavras de um cardeal da antiga Cortina de Ferro. Ao perguntarem como se sentia sendo líder de uma Igreja dilacerada pelo marxismo, uma Igreja pela qual ele mesmo podia fazer muito pouco, o bispo respondeu: “Trabalhar pela Igreja é proveitoso; orar pela Igreja é mais proveitoso ainda; sofrer pela Igreja é tudo!”

A Igreja é mistério! Não se pode penetrá-la somente com a inteligência; não se pode medi-la com números, com estatísticas de cúria ou projetos pastorais, não se pode abarcar sua realidade simplesmente com nossa visão, com nossas opiniões, com nossas ideologias! Somente se pode meditar sobre a Igreja sendo Igreja, amando a Igreja, tendo o coração pulsando no ritmo do coração da Mãe Igreja! Eis o sentido profundo da ousadia com que afirmamos: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica!”