NOVO BRASAO DO PAPA BENTO XVI

Roma – Se a heráldica é a exata representação visível e codificada de uma realidade, o retorno da tiara pontifícia no brasão de Bento XVI tem um valor simbólico que não pode ser subestimado. Com as suas três coroas, a tiara fala do tríplice poder do Papa: pai dos reis, regente do mundo, vigário de Cristo. Fala do sucessor de Pedro que, na estrutura hierárquica que é a Igreja, é o chefe supremo. O seu primado não está em discussão, as rédeas do governo são , em comunhão com os bispos, suas. No último domingo, durante a recitação do Angelus na Praça de São Pedro, pela primeira vez o novo brasão papal foi apresentado ao público. Para muitos tratou-se de um sinal vigoroso depois que, em abril de 2005, o Papa – que nos prognósticos pré-conclave era visto por todos como “o homem da restauração”, após os anos do vento reformador pós-conciliar – havia exposto o foco de seu programa “político” num brasão de simbologia contraditória: a tiara vinha substituída por uma mitra, considerada pelos especialistas mais carregada de espiritualidade e de um senso de colegialidade e fraternidade com o episcopado. Em 2005, o docente e estudioso da Igreja Giorni Rumi disse: “A tiara era dos tempos das cruzadas. E agora desapareceu, como se marcasse uma maior proximidade dos bispos: estamos de fato no primeiro Papa do novo milênio, existem sinais indicativos de um projeto ou de uma esperança”. Antes mesmo, pois era do tempo de Paulo VI, o Papa que aboliu o uso da sedia gestatória, a tiara não vinha mais endossada por um Papa. Mas permanece o fato de que ninguém, nem mesmo o próprio Montini, ousou retirá-la do próprio brasão. O primeiro foi precisamente o Papa Ratzinger.
Por que Bento XVI o fez? A resposta pode ser dupla. Para alguns, foi a última cartada do cerimoniário pontifício ligado à escola da reforma litúrgica pós-conciliar de Annibale Bugnini; [...] foi ele, dizem, o inspirador “post mortem” de Monsenhor Piero Marini, grande cerimoniário papal no pontificado wojtyliano, em todas as suas inovações litúrgicas: a última, cronologicamente, o brasão sem tiara. Um brasão, dizem os promotores desta versão, que Bento XVI teve de suportar sem poder reagir.
Um brasão desenhado, sob indicação do ofício cerimonial, pelo Cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo, especialista em heráldica.
Para outros, pelo contrário, tudo é mais simples: a retirada da tiara do brasão foi uma ordem precisa de Ratzinger, que desejava dizer basta aos adereços e aos sinais renascentistas. O sinal de que para ele chegara o tempo de um pontificado “franciscano”, que no brasão recordasse que o Papa é “unus inter pares”: o sonho ainda em vigor de uma colegialidade democrática. Quem é Bento XVI? Em 2005, muitos o descreveram a partir de seu brasão: um Papa bávaro e, como tal, decidido a guardar o patrimônio de identidade se esvaziando das tentações temporalistas. Mas hoje a antiga coroa retornou ao brasão. E diz muito de Bento XVI e de seu pontificado.