Vimos sua estrela... Viemos adorá-lo!

Neste Domingo, a Igreja no Brasil celebra a Solenidade da Epifania do Senhor, aquela conhecida pelo povo como Festa de Reis. A palavra epifania significa manifestação.
Desde a antiguidade, esta festa é importantíssima para a fé dos cristãos – no Oriente (o Oriente cristão é a parte oriental do antigo Império Romano e as regiões que sofreram sua influência: Grécia, os países da Península Balcânica, a Rússia e seus vizinhos e os cristãos do Oriente Médio) chega a ser mais solene que o dia do Natal: guiados pela luz do Menino, os magos, pagãos estrangeiros, vêm de longe para homenagear o Recém-nascido. A narrativa do Evangelho de Mateus quer deixar claro desde o início que o Menino veio para todos; nas palavras do evangelho de Lucas, este Recém-nascido é “luz para iluminar as nações” (2,32). Pela luz da estrela, o Salvador se manifesta a todos os povos da terra.
Os Magos, essas figuras misteriosas, têm muito que dizer ao mundo atual, a nós. Eles saem de suas terras distantes, saem de sua lógica, abandonam como que a sua comodidade e deixam-se guiar pela estrela do Menino. Essa estrela não é um astro qualquer, não tem uma luz como os outros corpos celestes, não pode ser percebida por astrônomos ou capturada por potentes telescópios. Nada disso! Essa estrela, luz do Menino, somente pode ser percebida pelos humildes de coração, pelos que sinceramente buscam a Deus; ela brilha no coração de cada ser humano que não se fecha para o Mistério: os Magos, com um coração aberto e humilde, viram-na e seguiram-na, deixando sua terra, sua vida... Herodes e Jerusalém, no entanto, não a enxergaram! Para enxergar a luz desse astro é necessário um coração disponível, um coração sem presunções... Como o excesso de luminosidade artificial esconde as estrelas nos céus de nossas cidades, toda autossegurança e presunção humanas, escondem a luz do Menino do olhar do seu coração.
Na estrela do Deus nascido da Virgem aparece claramente que o Altíssimo deseja a salvação de todos, que ninguém fica fora do seu chamado, do seu apelo à salvação: “Toda terra, toda gente viu a salvação do nosso Deus!” – é assim que a Igreja canta na solene Epifania. No seu Filho Jesus Cristo, Deus chama toda a humanidade à salvação, Deus bate a porta de cada coração humano. No entanto, com certa desilusão, constatamos que nossa sociedade tem se fechado para a luz do Menino.

O século XXI chegou e encontrou uma humanidade com um coração fechado numa civilização com seríssimos traços de morte (como aquela que Herodes, fechado para a luz do Menino, provocou aos inocentes): a impiedade, o descaso por Deus e seus preceitos, a falta de reconhecimento da dignidade humana, sobretudo dos pobres e desvalidos, dos anciãos, daqueles que ainda estão no ventre materno, das crianças; outros sinais de morte são a divisão injusta e brutal das riquezas entre países ricos e pobres, a fome crônica em tantas nações, a perversa distribuição da riqueza do planeta, a permissividade sexual, a destruição da família e de seus valores, a desorientação da juventude, a tirania dos meios de comunicação, o consumismo desenfreado, o endeusamento pueril da tecnologia, o violento processo de desumanização nas grandes cidades, a proliferação consumística de seitas e crendices... Tudo isto, sem querermos ser negativos, revela um coração humano fechado para a luz do Menino, um coração humano que pode, tragicamente, como Jerusalém e como Herodes, não enxergar a luz que brilhou.
Talvez nunca, como em nossa época, o homem sentiu-se tão fechado em si mesmo, tão autossuficiente... Por isso não pode ver a luz do Salvador. Para vê-la, é necessário ser pequeno, é necessário deixar, é necessário partir a caminho, procurando o Rei que nasceu... Foi isso que os Magos fizeram – e por isso “alegraram-se imensamente” (Mt 2,10). O coração humano somente pode alegrar-se de verdade, de modo consistente e pleno, quando se deixa iluminar pela luz do Cristo. Aí sim, a vida ganha um novo sentido e a existência revela sua verdadeira significação. Eles seguiram a luz com humildade, coragem e confiança, eles se alegraram com o Menino, pois atingiram o Deus inatingível... Finalmente, eles “regressaram por outro caminho” (cf. Mt 2, 12). Isso mesmo: ninguém que encontre a luz do Menino, ninguém que por ele se deixe iluminar volta do mesmo jeito, pelo mesmo caminho!
A cada início de ano é comum o augúrio de feliz Ano Novo... Há poucos dias atrás era isto que nos desejávamos reciprocamente... Mas, para que tais votos não sejam somente palavras é necessário que a humanidade – que nós – mude de rumo, de caminho. Quem dera que cada e a humanidade como um todo se deixasse guiar pela luz do Menino, encontrasse na sua luz a alegria e mudasse de caminho! Quem dera!
Sejam esses nossos sinceros votos neste início de novo tempo, neste 2012, recém-nascido como o Deus-Menino a quem a Sempre Virgem deu a luz na noite fria de Belém!

fonte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/